this is notas de figueira verde
uma newsletter dentro de uma newsletter, em português
there is a footnote for my english speaker readers on the bottom of this post.
Eu nunca sei ao certo como introduzir coisas novas. Quando eu criei o fig poetry, não foi diferente. Não era bem medo a palavra que eu procurava para descrever a sensação, era algo mais. Ansiedade de gelar a espinha, embrulhar o estômago. Nunca fui boa com projetos, ainda mais se eles envolviam falar com um grande público hipotético e desconhecido. Mas tenho duas novidades. A primeira é o lançamento do “notas de figueira verde”, uma newsletter novinha em folha em português dentro do fig poetry.
Essa ideia não é bem nova, vem assombrando a minha mente desde dois eventos, que aconteceram em tempos diferentes, e com pessoas diferentes. Um deles é o post da
, do all over the place, publicado em espanhol, a língua nativa dela, falando como o inglês acaba colonizando a nossa cabeça quando a gente aprende como uma segunda língua. Ela escreve magnificamente bem essa emoção, e apesar de eu não conseguir ler um puto de espanhol (formalmente falando), a proximidade que a língua tem com o português acaba ajudando na compreensão.O segundo evento foi encontrar, não só mutuals de outras redes escrevendo por aqui, como de repente, uma enxurrada de users e newsletters brasileiras no meu feed, ou no tik tok.
Penso que talvez, sim, o inglês tenha colonizado a minha mente também, porque quando comecei a escrever, não pensei no português como uma opção para isso, apesar de ser a minha língua materna. Estudo inglês desde que era criança, sou fluente desde os quinze anos, com certificado e graduação do curso para provar. Mas no fundo, eu sou, e sempre vou ser brasileira. Então surge o notas de figueira verde, para descolonizar um pouco o meu diálogo interno do inglês, enquanto temos o português também como uma língua tão rica. Se toda tradução é um ato de traição, o que seria escrever sobre meus sentimentos em inglês senão o maior ato de heresia à minha língua?
Acho que como se fala de sentimento em português, pouquíssimas outras línguas conseguem dizer. Saudade, por exemplo, não tem tradução que não minimize esse sentimento. Não é sobre somente brasileiros sentirem saudade, é sobre como a língua se enrola para soltar a palavra, sobre a sorte de ter, então, inventado algum dia, sete letras para descrever uma sensação que toma o peito inteiro. Saudade para mim tem sotaque do interior, puxando bem os “erres”, tem cheiro de asfalto molhado depois da chuva, de casa de vó e café passado na hora.
E então, resgato de um rascunho que pensei em postar aqui também, em inglês.
Como posso escrever em qualquer outra língua, quando meu povo sentia tanta falta um do outro que inventou uma palavra nova só para isso? Saudade tem raiz latina, cresce na terra como mato. É uma palavra que se recusa a ir embora, memória que fica na pele mesmo quando todas as coisas se esvaem. É trecho da única coisa que fica, lembranças, para que mesmo sozinhos, entendemos que nunca somos só.
Saudade é a nota que minha pele espera carregar, conforme todo ciclo se encerra, perfume que a memória acomete tão bem que é impossível não relembrar. E o notas de figueira verde fala sobre perfumaria também, além de ser um pedacinho do fig poetry. É sobre crescer sem deixar de lembrar de onde viemos. No meu coração, Brasil é sempre com S.
com amor (e saudade), juno.
P.S. (for the english speaker audience):
This is a new section of fig poetry, where I’ll write solely in portuguese. There will still be posts in english, I don’t plan to part ways with the language ever, nor to divide my audience based on what you can, or cannot read. But there will occasionally be posts like this one, and if that’s not something you’d like to see, you can continue to be a fig poetry subscriber without subscribing to the section notas de figueira verde. Your support is always appreciated. There will be a fresh piece in your inbox soon. Take care <3
luisa’s post: